Chumbos Norica X Gamo
Por Sérgio Rocha Loures | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Chumbos para FTPor Sérgio Rocha Loures
Com o início da modalidade de Field Target (FT) no Brasil, fica evidente a necessidade de adequarmos a modalidade à nossa realidade. O uso de equipamentos e munições deve estar de acordo com as legislações e mercado brasileiros. O uso de carabinas como as TX200 e HW97, lunetas de alta ampliação e chumbos como o JSB Exact ficam restritos a um número muito reduzido de praticantes, ou pela limitação legal ou pelo poder aquisitivo. Para popularizarmos a modalidade, portanto, temos que modificar as regras originais e adequá-las, mesmo que inicialmente, às nossas limitações. Uma destas limitações diz respeito à munição utilizada. Na pratica do FT, a munição tem um papel muito mais importante que a própria carabina utilizada. Vejamos o porquê. O alvo do FT possui um “kill zone” (área de impacto que conta como ponto) de um tamanho variável entre 25 e 50mm. O posicionamento deste alvo é aleatório entre uma distância de 10 até 50m. Diferente da prática de tiro com alvo a 10m, o FT obriga ao atirador o conhecimento da balística exterior para obter um bom resultado. Visada e trajetória Imagine uma carabina que tem o seu sistema de pontaria ajustado para 20m. Os tiros dados a esta distância irão agrupar no centro do alvo. Se o alvo for aproximado, os tiros irão agrupar acima do centro e se for afastado, abaixo do centro. Por que isso? Todo projétil conforme se desloca, forma uma parábola no ar, devido à gravidade. Esta parábola é mais acentuada quanto menor a velocidade e energia do projétil. Uma visada em linha reta irá cortar esta parábola em dois pontos. Estes pontos são os zeros próximo e distante da mira.
Figura 1: trajetória e visada Fica claro, portanto, que para se obter sucesso na modalidade de FT, o atirador deve conhecer perfeitamente o ponto zero distante e o ponto de impacto do projétil para as diversas distâncias de tiro, de forma a poder colocar o projétil dentro do “kill zone”. Mas como saber tudo isso? Energia e velocidade Como foi dito, a parábola depende da velocidade do projétil. Aplicando-se as leis da física e sabendo-se qual é esta velocidade, fica fácil calcular onde o projétil atingirá um alvo a certa distância. O uso de software e tabelas ajuda neste caso. Mas é claro que nem tudo é assim tão simples. A velocidade de um projétil depende da energia que ele tem ao sair da boca da arma. E esta energia depende da arma e da massa do projétil. A energia que uma arma de mola passa para um projétil depende quase que unicamente da energia armazenada em sua mola. Esta energia é transformada em energia cinética no momento do disparo de acordo com a seguinte equação:
Onde a energia é a energia transferida pela arma ao projétil, a massa é a massa do projétil e a velocidade é a velocidade com a qual o projétil sairá da boca da arma. Massa do projétil - Ok. Mas o que fazer com tudo isso? Perceba que a velocidade inicial do projétil dependerá da massa do mesmo. Uma alteração da massa e o tiro sairá mais alto ou mais baixo que a visada. Isso explica, em parte, porque chumbos diferentes agrupam em locais diferentes do alvo com uma mesma regulagem da mira. Você pode pensar: - Então é só usar o mesmo chumbo sempre. - Não é bem assim... O fabricante de chumbo mantém um certo controle na fabricação dos lotes de chumbos. A composição química do chumbo utilizado (apesar de ser só chumbo, sempre existe alguma quantia de impurezas), a igualdade entre as cavidades dos moldes que formam o chumbo, etc.Este controle implica em custo. Quanto maior o controle mais caro se torna o chumbo e melhor será o seu agrupamento. Tome como exemplo chumbos para tiro olímpico que chegam ao ponto de serem selecionados um a um. Ou seja, não adianta você só utilizar um tipo de munição. Você deve saber qual é a uniformidade que esta munição tem na sua massa e até mesmo na sua forma. O chumbo ideal nem sempre é o mais caro, mas sim aquele que garante atingir a área do “kill zone” sempre. No FT, não importa se você acertou o centro ou a borda do “kill zone”. Se derrubar o alvo já está contando ponto. Velocidade Quanto mais leve o chumbo, mais veloz ele é e mais tensa é a sua trajetória até o alvo. Ou seja, mais tempo o chumbo vai ficar dentro da área do “kill zone”. - Então devemos utilizar o chumbo mais leve possível. Certo? - Errado. Há um limite. Munição muito leve é muito sensível ao efeito do vento pela baixa energia que consegue carregar. Uma simples brisa pode deslocar o tiro alguns centímetros para fora do “kill zone”. Outro problema é que um chumbo leve em uma arma muito potente pode ultrapassar a velocidade do som assim que sai da arma, mas, também devido a baixa energia, logo perde velocidade e volta a se deslocar com velocidades subsônicas. Estas passagens pela barreira do som, causam turbulências que mudam completamente a trajetória do projétil. Portanto, a munição deve ser leve o suficiente para atingir velocidades altas, sem serem ultra-sônicos e pesados o suficiente para carregarem o máximo de energia possível. Munição para FT no Brasil As munições que nós temos no mercado brasileiro de fácil obtenção e adequadas para o FT são:
Todos os três possuem basicamente a mesma forma de diabolô com ponta arredondada e são fornecidos em latas de 250 unidades, nos calibres 4.5 e 5.5mm. Foto 1: Apache, Pro-magnum e Pro-hunter Teste Para avaliar estas munições, foram feitas as seguintes medições: velocidade inicial, massa e agrupamento. A velocidade foi medida com um cronógrafo e uma carabina Gamo Hunter 440 (modificada). Os resultados de 10 tiros com cada um dos chumbos podem ser visto na tabela abaixo.
Tabela 1: medições de velocidade Como pode ser visto, os chumbos da Gamo possuem uma velocidade média muito próxima. O Norica Apache, além de apresentar uma velocidade mais alta, também apresentou uma variação de velocidade entre tiros muito menor que os concorrentes. Vejamos como se saíram no quesito massa.
Tabela 2: medições de massa (20 amostras) Os valores acima mostram que existe muita pouca diferença nas massas médias entre as marcas. Entretanto, vemos novamente que o Apache apresenta a menor variação entre os chumbos de uma mesma lata. A sua massa ligeiramente mais baixa não explica, entretanto, a diferença de velocidade. Esta diferença se deve provavelmente a outros fatores como o diâmetro e geometria do chumbo. Mas como números não derrubam alvos, vamos ver os agrupamentos. Foto 1: agrupamento Norica Apache
Foto 2: agrupamento Gamo Pro-hunter
Foto 3: agrupamento Gamo Pro-magnum Todos os tiros (5 para cada alvo) foram dados a 25 metros, na posição sentada sem apoio (posição standard de FT) com uma Gamo Hunter 440 (modificada). Neste quesito houve empate entre Apache e Pro-hunter. Simulando - Mas qual chumbo escolher afinal? Apesar dos agrupamentos mostrarem um empate do Apache e do Pro-hunter, notem o espalhamento vertical dos tiros. No Apache, este “agrupamento” vertical é menor, o que significa que há uma consistência maior entre tiros. Com os dados obtidos, podemos simular o comportamento médio apresentado por cada um dos modelos. Gráfico 1: tragetória e ponto de impacto (Apache, Pro-hunter, Pro-magnum) Note no gráfico acima que a trajetória do Apache é muito mais tensa que as munições da Gamo. Podemos notar também que para um “kill zone” de 3cm de diâmetro, o Zero ideal é obtido em 35m. Qualquer tiro entre 10 e 39m estará dentro da área do “kill zone”. Com relação à energia, o Norica também leva vantagem. Apesar dos pesos serem praticamente iguais, o Apache consegue um melhor aproveitamento da energia da arma, o que se traduz em tiros menos propensos a desvios causados pela ação de vento e também mais chances de derrubar o alvo.
Gráfico 2: energia (Apache, Pro-hunter, Pro-magnum) Conclusão Podemos dizer sem sombra de dúvida que a melhor opção para a prática do Field Target no Brasil é a munição Apache da Norica, seguido de perto pelo Gamo Pro-hunter.
Tabela 3: resumo |
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