segunda-feira, 3 de março de 2008

Chumbos Norica X Gamo

Chumbos Norica X Gamo

Por Sérgio Rocha Loures

Chumbos para FT

Por Sérgio Rocha Loures

Com o início da modalidade de Field Target (FT) no Brasil, fica evidente a necessidade de adequarmos a modalidade à nossa realidade. O uso de equipamentos e munições deve estar de acordo com as legislações e mercado brasileiros.

O uso de carabinas como as TX200 e HW97, lunetas de alta ampliação e chumbos como o JSB Exact ficam restritos a um número muito reduzido de praticantes, ou pela limitação legal ou pelo poder aquisitivo.

Para popularizarmos a modalidade, portanto, temos que modificar as regras originais e adequá-las, mesmo que inicialmente, às nossas limitações. Uma destas limitações diz respeito à munição utilizada.

Na pratica do FT, a munição tem um papel muito mais importante que a própria carabina utilizada. Vejamos o porquê.

O alvo do FT possui um “kill zone” (área de impacto que conta como ponto) de um tamanho variável entre 25 e 50mm. O posicionamento deste alvo é aleatório entre uma distância de 10 até 50m. Diferente da prática de tiro com alvo a 10m, o FT obriga ao atirador o conhecimento da balística exterior para obter um bom resultado.

Visada e trajetória

Imagine uma carabina que tem o seu sistema de pontaria ajustado para 20m. Os tiros dados a esta distância irão agrupar no centro do alvo. Se o alvo for aproximado, os tiros irão agrupar acima do centro e se for afastado, abaixo do centro. Por que isso?

Todo projétil conforme se desloca, forma uma parábola no ar, devido à gravidade. Esta parábola é mais acentuada quanto menor a velocidade e energia do projétil. Uma visada em linha reta irá cortar esta parábola em dois pontos. Estes pontos são os zeros próximo e distante da mira.

Figura 1: trajetória e visada

Fica claro, portanto, que para se obter sucesso na modalidade de FT, o atirador deve conhecer perfeitamente o ponto zero distante e o ponto de impacto do projétil para as diversas distâncias de tiro, de forma a poder colocar o projétil dentro do “kill zone”. Mas como saber tudo isso?

Energia e velocidade

Como foi dito, a parábola depende da velocidade do projétil. Aplicando-se as leis da física e sabendo-se qual é esta velocidade, fica fácil calcular onde o projétil atingirá um alvo a certa distância. O uso de software e tabelas ajuda neste caso.

Mas é claro que nem tudo é assim tão simples. A velocidade de um projétil depende da energia que ele tem ao sair da boca da arma. E esta energia depende da arma e da massa do projétil.

A energia que uma arma de mola passa para um projétil depende quase que unicamente da energia armazenada em sua mola. Esta energia é transformada em energia cinética no momento do disparo de acordo com a seguinte equação:

Onde a energia é a energia transferida pela arma ao projétil, a massa é a massa do projétil e a velocidade é a velocidade com a qual o projétil sairá da boca da arma.

Massa do projétil

- Ok. Mas o que fazer com tudo isso?

Perceba que a velocidade inicial do projétil dependerá da massa do mesmo. Uma alteração da massa e o tiro sairá mais alto ou mais baixo que a visada. Isso explica, em parte, porque chumbos diferentes agrupam em locais diferentes do alvo com uma mesma regulagem da mira.

Você pode pensar: - Então é só usar o mesmo chumbo sempre.

- Não é bem assim...

O fabricante de chumbo mantém um certo controle na fabricação dos lotes de chumbos. A composição química do chumbo utilizado (apesar de ser só chumbo, sempre existe alguma quantia de impurezas), a igualdade entre as cavidades dos moldes que formam o chumbo, etc.Este controle implica em custo. Quanto maior o controle mais caro se torna o chumbo e melhor será o seu agrupamento. Tome como exemplo chumbos para tiro olímpico que chegam ao ponto de serem selecionados um a um.

Ou seja, não adianta você só utilizar um tipo de munição. Você deve saber qual é a uniformidade que esta munição tem na sua massa e até mesmo na sua forma. O chumbo ideal nem sempre é o mais caro, mas sim aquele que garante atingir a área do “kill zone” sempre. No FT, não importa se você acertou o centro ou a borda do “kill zone”. Se derrubar o alvo já está contando ponto.

Velocidade

Quanto mais leve o chumbo, mais veloz ele é e mais tensa é a sua trajetória até o alvo. Ou seja, mais tempo o chumbo vai ficar dentro da área do “kill zone”.

- Então devemos utilizar o chumbo mais leve possível. Certo?

- Errado.

Há um limite. Munição muito leve é muito sensível ao efeito do vento pela baixa energia que consegue carregar. Uma simples brisa pode deslocar o tiro alguns centímetros para fora do “kill zone”.

Outro problema é que um chumbo leve em uma arma muito potente pode ultrapassar a velocidade do som assim que sai da arma, mas, também devido a baixa energia, logo perde velocidade e volta a se deslocar com velocidades subsônicas. Estas passagens pela barreira do som, causam turbulências que mudam completamente a trajetória do projétil.

Portanto, a munição deve ser leve o suficiente para atingir velocidades altas, sem serem ultra-sônicos e pesados o suficiente para carregarem o máximo de energia possível.

Munição para FT no Brasil

As munições que nós temos no mercado brasileiro de fácil obtenção e adequadas para o FT são:

  • Gamo Pro-hunter;
  • Gamo Pro-magnum;
  • Norica Apache.

Todos os três possuem basicamente a mesma forma de diabolô com ponta arredondada e são fornecidos em latas de 250 unidades, nos calibres 4.5 e 5.5mm.

Foto 1: Apache, Pro-magnum e Pro-hunter

Teste

Para avaliar estas munições, foram feitas as seguintes medições: velocidade inicial, massa e agrupamento. A velocidade foi medida com um cronógrafo e uma carabina Gamo Hunter 440 (modificada). Os resultados de 10 tiros com cada um dos chumbos podem ser visto na tabela abaixo.

Gamo Pro-MagnumGamo Pro-HunterNorica Apache
248.4 m/s253.3 m/s262.1 m/s
246.0 m/s249.6 m/s262.7 m/s
240.5 m/s250.2 m/s261.5 m/s
246.6 m/s248.7 m/s258.8 m/s
245.4 m/s242.3 m/s259.4 m/s
249.6 m/s249.6 m/s261.8 m/s
249.9 m/s250.2 m/s264.9 m/s
248.7 m/s248.4 m/s260.3 m/s
247.2 m/s250.9 m/s258.8 m/s
222.2 m/s251.2 m/s261.5 m/s
Mínimo=222.2 m/s242.3 m/s258.8 m/s
Média=244.4 m/s249.4 m/s261.2 m/s
Máximo=249.9 m/s253.3 m/s264.9 m/s
Desvio padrão=8.3 m/s2.9 m/s1.9 m/s

Tabela 1: medições de velocidade

Como pode ser visto, os chumbos da Gamo possuem uma velocidade média muito próxima.

O Norica Apache, além de apresentar uma velocidade mais alta, também apresentou uma variação de velocidade entre tiros muito menor que os concorrentes.

Vejamos como se saíram no quesito massa.

Gamo Pro-MagnumGamo Pro-HunterNorica Apache
Mínimo=0.5008 g0.4972 g0.4930 g
Média=0.5081 g0.5081 g0.5040 g
Máximo=0.5136 g0.5173 g0.5101 g
Desvio padrão=0.0037 g0.0061 g0.0035 g

Tabela 2: medições de massa (20 amostras)

Os valores acima mostram que existe muita pouca diferença nas massas médias entre as marcas. Entretanto, vemos novamente que o Apache apresenta a menor variação entre os chumbos de uma mesma lata. A sua massa ligeiramente mais baixa não explica, entretanto, a diferença de velocidade. Esta diferença se deve provavelmente a outros fatores como o diâmetro e geometria do chumbo.

Mas como números não derrubam alvos, vamos ver os agrupamentos.

Foto 1: agrupamento Norica Apache

Foto 2: agrupamento Gamo Pro-hunter

Foto 3: agrupamento Gamo Pro-magnum

Todos os tiros (5 para cada alvo) foram dados a 25 metros, na posição sentada sem apoio (posição standard de FT) com uma Gamo Hunter 440 (modificada). Neste quesito houve empate entre Apache e Pro-hunter.

Simulando

- Mas qual chumbo escolher afinal?

Apesar dos agrupamentos mostrarem um empate do Apache e do Pro-hunter, notem o espalhamento vertical dos tiros. No Apache, este “agrupamento” vertical é menor, o que significa que há uma consistência maior entre tiros.

Com os dados obtidos, podemos simular o comportamento médio apresentado por cada um dos modelos.

Gráfico 1: tragetória e ponto de impacto (Apache, Pro-hunter, Pro-magnum)

Note no gráfico acima que a trajetória do Apache é muito mais tensa que as munições da Gamo. Podemos notar também que para um “kill zone” de 3cm de diâmetro, o Zero ideal é obtido em 35m. Qualquer tiro entre 10 e 39m estará dentro da área do “kill zone”.

Com relação à energia, o Norica também leva vantagem. Apesar dos pesos serem praticamente iguais, o Apache consegue um melhor aproveitamento da energia da arma, o que se traduz em tiros menos propensos a desvios causados pela ação de vento e também mais chances de derrubar o alvo.

Gráfico 2: energia (Apache, Pro-hunter, Pro-magnum)

Conclusão

Podemos dizer sem sombra de dúvida que a melhor opção para a prática do Field Target no Brasil é a munição Apache da Norica, seguido de perto pelo Gamo Pro-hunter.

Chumbo= Gamo Pro-MagnumGamo Pro-HunterNorica Apache
Peso médio=0.5081 g0.5081 g0.5040 g
Velocidade média=244.4 m/s249.4 m/s261.2 m/s
Energia=15.2 J15.8 J17.2 J
Agrupamento=4 cm3 cm3 cm
Nota=689

Tabela 3: resumo

rochaloures@yahoo.com

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